Fuga

Conto cada uma das estrelas do céu enquanto espero pela tua chegada.
Mas não sei onde é que isto me irá levar.
a escuridão é uma armadilha. Encolhe-nos com a sua força. Tem arestas afiadas. Que nos magoam se nos acomodarmos demasiado. E se nos mexermos demasiado.
Partiste há tanto tempo.
As respostas às perguntas que nunca tive coragem de fazer continuam por aí. Algures onde, não sei bem. Mas as perguntas continham a acumular-se a uma velocidade vertiginosa.
São demasiadas para que as consiga aguentar.
Olho para o lado quando os olhos me doem.
Através deles acumulei muitas memórias.
As suficientes para preencher um álbum de fotografias. São os pedacinhos que poderiam encher um Mundo inteiro de felicidades recém descobertas.
Apenas se não tivessem passado de uma mentira.
As lágrimas ameaçam sair.
Quem sabe quando irão parar, uma vez iniciadas?
Lembro-me das tuas palavras naquele dia em que foste embora.
Achavas que a distância era a melhor solução, mas que talvez de nada valesse.
Escolheste magoar-me apesar das consequências que isso pudesse trazer para o Universo.
Nada te importou.
E o Mundo não se importa com alguém que destrua tudo o que tem diante de si.
Eu própria deixei de me importar.
Dói.
Dói demasiado seja de que maneira for.
Seja em que aresta for. As cicatrizes continuam a formar-se. A escuridão tem ganho os seus esforços para me engolir.
As minhas mãos. Já não as reconheço nestes dias.
Mas para dizer a verdade, já nem eu sou perfeitamente reconhecível.
Perdi-me ao longo do caminho.
E não posso reencontrar a pessoa que fui.
Pois levaste pedaços de mim, pedaços importantes, quando partiste.
Nunca deveria ter permitido que o fizesses.
Agora estou atrasada.
Saí de onde estava. Do sítio onde me tinhas deixado.
Perdi a esperança de algo mais.
A culpa é tua.
É nossa, provavelmente.
Mas a última coisa que se tira a alguém é a vontade de ter esperança.
Mesmo que o crescimento dessa esperança, leve a dor.
Porque dor já eu sinto.
Provavelmente demasiada.
Ergo o meu rosto para os céus, e fecho os olhos às estrelas que um dia contei.
Sinto pequenas gotas de chuva a caírem
no meu rosto.
Sinal de nova vida.
Talvez também eu renasça.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

O nosso amar

Aquele homem imaginário e inventado

Autómato ou como na verdade, ela não esteve realmente aqui