Mas mais do que tudo... sinto a tua falta

Sinto falta da maneira como costumávamos ser.
Isto é estranho. Sinto os meus olhos a encherem-se de lágrimas e um sorriso de tola a pensar em ti. Juntamente com os pedaços de mim que se quebram pela história que não se tornará a escrever.
Tenho esta memória tão intensa gravada na minha cabeça, mais do que se tivesse sido ontem, mas o momento mais feliz na minha vida.
Apesar de o meu coração pesar ao recordar-me...
Estávamos nas primeiras semanas do nosso namoro. Toda a gente me gozava por não conseguir retirar o sorriso constante de pateta do meu rosto, mas para ser sincera não queria saber. Sentia-me mais leve e mais entusiasmada do que alguma vez me havia sentido, e nunca antes imaginara que tal poderia acontecer. Foste o meu primeiro amor, e a força com que o meu corpo te reagia demonstrava isso mesmo.
Era de madrugada, ou inicio da manhã. Sei que a luz estava entre aquela deliciosa cor de azul petróleo e laranja vivo. Tinha estado à volta na cama durante uma meia hora. Sempre sofri de insónias complicadas, e os meus pesadelos não ajudavam mais o assunto, empurrando-me para sítios que eu não queriam ser empurrada e ameaçando-me asfixiar ainda antes de ter tido a oportunidade de vir ao de cima. Tinhas ajudado a mitigar essa sensação, mas a monstrinha ainda me apanhava de cada vez que estava desprevenida.
Foi um som tão leve de inicio, que admito que por momentos achei que fosse um mero produto da minha imaginação. O barulho acabou por se intensificar, fruto da tua impaciência suponho, pelo que me levantei da cama.
Fiquei embasbacada quando te vi. O teu ar tão divertido, como uma criança pequena, os teus olhos brilhavam tanto. Ainda hoje estou para saber como é que trepaste para a minha janela, mas a alegria absurda que senti ao ver-te, lamechas que sou, sobrepôs-se a tudo.
Fizeste-me sinal para que te deixasse entrar, como se houvesse alternativa sequer. Puseste-me as mãos nas ancas assim que te viste de pés bem assentes no mesmo espaço que eu, e fizeste-me rodopiar pelo quarto, conforme me enchias de beijos, uma e outra vez. Parecia que não me vias à uma eternidade, mas eu não me importei, porque sinceramente... porque é que deveria?
Raptaste-me, ou melhor dito, eu deixei que me raptasses. Arrastámos-nos para fora da minha janela, o mais calmamente que dois jovens apaixonados em fuga alguma vez poderiam conseguir.
O teu carro estava estacionado no final da rua. Adoravas aquela coisa, aquele carocha do azul mais ridículo que alguma vez tinha visto. Mas ai de quem se atrevesse a levantar uma palavra contra a tua menina. Sim... o raio do carro... não eu.
É incrível como me rio com isto.
O rádio embalou o suave arranque. Prometia ser um belo dia de Verão. Conduzias com as janelas abertas, e o vento deliciava-se a brincar com o teu cabelo. Fingias que te zangavas comigo quando punha os pés em cima do tabelier do carro, mas não descansavas enquanto não tinhas a minha mão na tua. Arrepiava-me quando traçavas longos círculos na minha pele, mas nunca, nunca quis que parasses. Prometeste-me que me ias levar até onde a felicidade morava, mas se queres que diga... aquele momento... em que olhavas para mim como se fosse o mais importante à face da Terra, em que o meu coração ameaçava rebentar no meu peito de cada vez que olhavas para mim, e que o carro parecia levar-nos para um rumo sem destino...
Acho que nunca me voltarei a sentir tão feliz como naquele instante.
Mas hoje, e agora, quando as minhas próprias mãos estão tão vazias, tanto de mim quanto de ti... não consigo eliminar a sensação que o destino brincou connosco, da pior maneira possível.
Fomos lixados. Sei que provavelmente é uma expressão demasiado forte para algo que a dado dia foi tão belo. Mas o que me assola hoje é uma dor igualmente intensa, e às vezes acho que nem sequer vou conseguir voltar a respirar como deve ser.
Gostava de saber... às vezes gostava de saber realmente quão dificil era para ti. Gostava de ter tido uma melhor oportunidade. De poder ser a tua âncora quando te sentias mais turbulento. De aliviar os teus demónios da mesma maneira que aliviavas os meus. Mas fugiste demasiado depressa do meu alcance, como se soubesses à partida que o tempo que teríamos juntos seria pouco, ou demasiado curto. Que estou a dizer...? Sei que agora já não estás aqui... As raízes negras que se haviam alojado no teu coração acabaram mesmo por te devorar e ameaçam, agora mesmo, destruir a minha própria sanidade.
Sinto saudades da maneira como costumávamos ser.
Mas mais do que tudo... sinto a tua falta.

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