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A mostrar mensagens de maio, 2019

Aquele homem imaginário e inventado

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Ele era um ser humano estranho. E por isso, me deixei sugar para o seu interior, como se de um instante para o outro, me encontrasse dentro de um remoinho. Conseguia sentir uma tempestade que nascia do centro do seu peito. Mas era curioso, que mais ninguém a parecia ver senão eu. Como se nascesse apenas no meu olhar. Mas percebia-a lá. Deformava-lhe o rosto de uma maneira impressionante. Cobrindo as suas feições de rachas profundas, e retirando qualquer calma que os seus olhos tinham a obrigação natural de transmitir. Para mim, era tenebroso olhar na sua direção. Era como se o próximo passo que desse fosse o errado, podendo arriscar-me a nunca mais ver a luz do dia. Ele era um homem calado e sisudo. E como consequência, tornei-me numa mulher de papel nas suas mãos. O seu toque tornava-me praticamente transparente, mesmo antes de ele me rasgar  até ao mais ínfimo dos pedacinhos. Afinal, ele era um gigante de pedra. E mesmo que fosse uma fada madrinha, não tinha a hipótese de ficar

Agora sou uma mulher invisível

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Costumava ser um pássaro, mas agora, tornei-me uma mulher invisível. E poderia ser esse o fim da história, como costumam dizer, não fosse a peculiaridade do que vos acabei de contar. Não que eu seja alguma coisa de especial neste momento, em que escrevo acerca do meu Mundo, que parecendo que não, morreu do nada. Afinal, tornei-me numa mulher invisível. Ainda me lembro da sensação de ser um pássaro. Não faz assim tanto tempo que o vento me batia direitinho no rosto, desarrumando tudo nele. Até me levantava os lábios, de modo a que uma espécie de sorriso se formasse. Desejava mesmo que alguém me tivesse tirado uma fotografia nessas alturas, em que as pessoas pareciam tão pequenas em relação ao meu ser. O meu pequeno coração, grande, segundo opiniões alheias, batia tão fortemente no meu peito, quase como se ele estivesse a ganhar asas para sair disparado através da minha boca. As minhas asas eram lindas. Pareciam que poderia suportar o meu peso para todo o sempre, levando-me caso foss

Rainha do gelo, como sem saber ela não queria estar sozinha

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A voz mecânica soou ao longo de toda a carruagem, anunciando o que seria a paragem seguinte. O som propagava-se que nem um eco longínquo, apesar da sua origem não sair do mesmo lugar, tal como seria de esperar. Ao fim de alguns segundos, já me havia esquecido qual era o lugar que havia sido anunciado. Afinal, não tinha realmente qualquer importância. Entrara na carruagem pela viagem, e não pelo Destino. Um solavanco controlado atrapalhou a trajetória do comboio, como um soluço atrapalha a fala de uma criança pequena. De repente, e sem grandes consequências. Troquei a perna que tinha traçada, e voltei a verificar que o botão do meu casaco se mantinha categoricamente fechado, como tinha feito exatamente trinta minutos antes daquele instante. Fazia aquilo uma vez por semana. Entrava na estação de comboios ao fundo da rua onde ficava a minha casa. Era a que ficava mais perto. Afinal de contas, a existência de um destes edifícios públicos nas redondezas entrara na lista de cons