Agora sou uma mulher invisível

Costumava ser um pássaro, mas agora, tornei-me uma mulher invisível.
E poderia ser esse o fim da história, como costumam dizer, não fosse a peculiaridade do que vos acabei de contar. Não que eu seja alguma coisa de especial neste momento, em que escrevo acerca do meu Mundo, que parecendo que não, morreu do nada.
Afinal, tornei-me numa mulher invisível.
Ainda me lembro da sensação de ser um pássaro. Não faz assim tanto tempo que o vento me batia direitinho no rosto, desarrumando tudo nele. Até me levantava os lábios, de modo a que uma espécie de sorriso se formasse. Desejava mesmo que alguém me tivesse tirado uma fotografia nessas alturas, em que as pessoas pareciam tão pequenas em relação ao meu ser. O meu pequeno coração, grande, segundo opiniões alheias, batia tão fortemente no meu peito, quase como se ele estivesse a ganhar asas para sair disparado através da minha boca.
As minhas asas eram lindas. Pareciam que poderia suportar o meu peso para todo o sempre, levando-me caso fosse necessário até ao fim do Mundo.
Era esse um dos meus sonhos. Ir até ao fim do arco-íris, só para ver o que é que está do outro lado. Esperava ver uma chuva de ouro, digna de um verdadeiro conto de fadas. Mas, tornei-me numa mulher invisível.
E como consequência, nunca verei a real chuva de flocos de ouro.
Porquê? Algo estilhaçou a minha paisagem. Como se de um momento para o outro, tudo deixasse de ser azul e vivo, para negro e desolado. Mergulhei fundo, numa espiral asfixiante. As minhas asas foram arrancadas do corpo, e tomaram o seu rumo, quase tomando a minha vida como delas.
Caí na Terra, no meio de um rua cheia de gente. Mas por incrível que parecesse, apesar do facto de as minhas asas terem desaparecido, do meu corpo estar lacerado e do vento já não se fazer sentir no meu rosto, como o próprio mel que dá vida nos instantes finais de a chama de uma vela, ninguém parecia dar por mim. As pessoas que costumavam ser do mesmo tamanho que formigas, empurravam-me de um lado para o outro, como se tivessem a intenção de me pisarem, acalcar-me debaixo dos seus pés, apesar de nos termos tornado do mesmo tamanho. Era invisível para elas, e de onde costumava sair um belo canto, passaram a sair gritos de desespero. Havia dor, tanta que me magoava até ao ponto de me asfixiar.
E ele… que me agarrava o pulso recentemente formado, puxando o meu corpo invisível, até que os meus pés transparentes se afundassem no chão inquebrável.
Ele estava lá…
Passei de um pássaro a uma mulher invisível.
E nunca mais voarei.

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