Aquele homem imaginário e inventado

Ele era um ser humano estranho.
E por isso, me deixei sugar para o seu interior, como se de um instante para o outro, me encontrasse dentro de um remoinho.
Conseguia sentir uma tempestade que nascia do centro do seu peito. Mas era curioso, que mais ninguém a parecia ver senão eu. Como se nascesse apenas no meu olhar. Mas percebia-a lá. Deformava-lhe o rosto de uma maneira impressionante. Cobrindo as suas feições de rachas profundas, e retirando qualquer calma que os seus olhos tinham a obrigação natural de transmitir.
Para mim, era tenebroso olhar na sua direção. Era como se o próximo passo que desse fosse o errado, podendo arriscar-me a nunca mais ver a luz do dia.
Ele era um homem calado e sisudo. E como consequência, tornei-me numa mulher de papel nas suas mãos. O seu toque tornava-me praticamente transparente, mesmo antes de ele me rasgar  até ao mais ínfimo dos pedacinhos. Afinal, ele era um gigante de pedra.
E mesmo que fosse uma fada madrinha, não tinha a hipótese de ficar a salvo.
Uma noite tenebrosa, percebi que ele não pertencia a este planeta. Pois se, a sua alma se houvesse materializado de uma parte remotamente semelhante de onde a minha havia nascido, poderia eu própria ter apanhado a primeira nave espacial para fora da Terra. Mas eu, era a única que, mais uma vez, parecia dar por este pormenor assustador. Mas parecia que era um homem que conseguia usar a sua pele de trás para a frente e de frente para trás. Como se a parte de dentro fosse a de aspeto mais humano, e quando ninguém de fora estava a ver, a voltasse a por do direito, no seu ar de extraterrestre quando mais ninguém do Mundo o poderia ver.
Á exceção de mim, que parecia ver tudo aquilo que não queria realmente identificar. Mas, ao seu olhar feroz, eu era feita de areia e de estilhaços de vidro. Portanto, não contava. Eu não importava. E ele fazia questão de me o lembrar constantemente.
Para me moldar a cada uma das suas inconstâncias, tentei aguentar todo o ar que podia dentro de mim, a todos os instantes. Como se o meu eixo estabilizasse o seu, o que aumentava a importância de me manter o mais imóvel possível. Portanto, decidi tornar-me de aço, quando ainda no dia antes era do mais fugidia possível. Nasceram-me pés demasiado pesados, de modo a fixar-me no chão, impedindo-me de sair do meu lugar. Nasceram-me braços mecânicos, que só a força de mil homens poderia mover milímetros que fosse. E os meus pulmões desapareceram, tornando-me imortal, para que os seus braços de correntes se pudessem fixar em todos os pontos de mim que tomaria por disponíveis. Ele sugar-me-ia com ou sem a minha ajuda.
Ele era um homem estranho e perturbado.
E antes que eu desse por ela, deixei de ser humana.
Vi o interior da minha pele, e não era o que estava à espera.
Por causa daquele homem imaginário e inventado.

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