Tenho cicatrizes

Tenho muitas cicatrizes. Indescritíveis.
Estão espalhadas por todo o meu corpo. Sei que não as consegues ver.
Mas formam mapas intrincados.
Formam mapas de todos os caminhos que a minha vida tomou. Caminhos difíceis. Perturbados.
Que tomam a história da minha vida.
As minhas cicatrizes contam o ser humano que sou, contam o ser humano que fui desde o inicio da história.
Da minha história.
Tenho mesmo muitas cicatrizes.
São resultados das amarras que me foram lançadas ao longo dos anos.
Amarras que me prenderam, que me impediram de chegar ao futuro que tanto tinha desejado, há tantos anos.
Ou que me arrastaram de lá.
Tenho cicatrizes. Talvez não as vejas.
Fico contente por isso. Talvez apenas sejam visíveis nos locais daqueles que me magoaram. Talvez sejam apenas visíveis aos olhos daqueles, que tal como eu, também sofreram.
Daqueles que também ficaram com marcas irreconhecíveis no seu corpo. Daqueles que foram torturados tanto pelo tempo como pelas vontades de outros.
Talvez sejam pessoas irreconhecíveis para mim igualmente. Talvez vez eu não consiga ver as suas cicatrizes.
Talvez elas ainda não se tenham soltado das suas amarras.
Eu quebrei as minhas. Ajudaste-me nisso.
No dia em que olhaste para o meu rosto, e viste mais do que aquilo que estava preparada para mostrar ao Mundo.
Aceitaste a minha história. Mais.
Revoltaste-te quando te a contei. Revoltas-te com o Mundo que me tinha permitido sofrer.
Gostavas de ter estado comigo. Para me proteger.
Eu disse-te que já não me importava muito. Não me importava com as minhas cicatrizes.
Para o bem ou para o mal. Elas fizeram de mim o ser vivo que sou hoje.
E é por quem eu sou hoje, que tive a oportunidade de ter encontrar.
E que tivemos a oportunidade de nos amar.

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