Loucura

Soubeste que eu era uma desnorteada desde o primeiro momento em que olhaste para mim.
Disseram-te que eram os meus olhos. Disseste-me isso. Concluíste demasiado cedo que era qualquer tipo de paixão que estava inerente a eles.
Não é paixão. É somente loucura desnorteada. Uma loucura sã. Pouco. Mas o suficiente para os meus dias serem maiores do que os da maioria das outras pessoas. Sã o suficiente para compreender o Mundo que nos inclui a nós os dois. E o mundo que te inclui a ti, é somente aquilo que eu peço.
Sou louca. Possuo uma loucura dominadora e submissa. Uma loucura provocada pelas nódoas negras do tempo. Das amolgadelas que me foram deixando conforme fui seguindo o meu caminho. Não deixei de caminhar, apesar disso. Fui vivendo conforme a loucura dos outros. Reprimi a minha numa tentativa de me submeter ao Mundo destruidor em nosso redor.
Tocaste-me mesmo quando viste o meu interior. Viste a minha loucura selvagem dominadora. A selvagem que existe em mim, que assoberba tudo em seu redor, amou a tua calma desde o primeiro segundo. Mas foi igualmente a selvagem em mim que sempre acreditou que lá no fundo eras mais do que a minha Natureza poderia aguentar.
Viste os meus demónios. Dançaste com com eles à luz de luares. Os fantasmas brancos que sempre habitaram os pesadelos que assustaram as minhas noites. os suores que me percorriam nessas noites eram resultado das corridas desafortunadas contra tempos parados. Fugas de pessoas aterradoras, as feridas que perduram ainda hoje na minha alma.
Sorrisos deslumbrantes. Foi isso que me ofereceste na tua coragem imensurável. Lidaste com a minha loucura com a mestria dos domadores de leões. Como se a tua própria vida dependesse exclusivamente desse único gesto.
O que não sabes é que nesse dia salvaste-me dos meus demónios, como quem oferece do nada uma golfada de ar fresco. Aceitaste a desnorteada que sou. Por tudo o mais louco que existe até ao fim desta vida.
E que agora aceito a minha loucura de cada vez que me vês.

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