Falta de oportunidade

Nunca tive a oportunidade de te dizer adeus.
De ver pela última vez o teu sorriso. As covinhas do teu rosto que conhecia tão bem. Não tive a oportunidade de contar os sinais das tuas costas que te deixavam todo arrepiado.
De sentir os teus braços em redor do meu corpo uma última vez, cheirar um aroma de um regresso a casa, e sentir, nem que fosse com um último suspiro que tudo iria ficar bem.
Não tive uma última chance de ouvir a tua voz.
De lhe decorar todos os detalhes, gravá-la na minha alma e no meu coração como a melodia inesquecível de toda a minha vida.
Queria secar-te as lágrimas num último instante. Proteger-te de um Mundo que tanto pode ter belo como de cruel, mas que ficava tão mais colorido contigo ao meu lado.
O meu coração bate num compasso invisível, num abafo pelo barulho de luzes que perdeu o tino, o rumo e o sentido.
Quero barafustar.
Mas acho que estou sobretudo assustada.
Com medo que as memórias se comecem a perder uma por uma, no frio de um Inverno que chegou antes do seu tempo e que não é por isso que vai embora mais cedo. Estou com receio de esquecer todos os detalhes que não prestei atenção suficiente para gravar, e que em breve não passem mais do que uma ilusão.
Perdoas-me?
Não cheguei a tempo do fim da jornada.
E sinto uma falta terrível de colocar a minha mão na tua, de sentir os teus dedos por entre os meus, e de ouvir as tuas piadas.
Não consegui voar contigo. Sonhar alto e mais forte. De contar as estrelas do céu a partir do teu olhar e com elas traçar constelações.
Perdi uma última dança.
Uma última discussão.
Estou zangada contigo. Mas só um bocadinho.
Perdeste-te de mim e não de deixaste dizer-te adeus.
Perdi a eternidade contigo, e acho que isso estilhaçará o meu coração, agora e para sempre.
Amo-te.
Não te o pude dizer de novo.

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