Reencontrar-me

Amei-te até o meu corpo me começar a doer.
Até que os dias deixaram de ter qualquer significado. Até que os sorrisos que costumavas plantar no meu rosto começaram a ser cada vez menos frequentes.
Amei-te até esta palavra deixar de ser música nos meus ouvidos. 
O dia em que te deixar de amar... não sei, para ser sincera. Será que posso sequer definir um dia? O dia em que a luz que iluminava o meu Mundo se tornou somente escuridão, quando as palavras começaram a ficar presas na minha garganta, pois o medo que elas me desfizessem era demasiado grande.
E tu? Sabes dizer o dia em que me deixaste de amar?
A nossa história começou como tantas outras. Rapaz conhece rapariga. Rapariga apaixona-se perdidamente por rapaz, e acha que o seu final feliz está preso na ponta dos seus dedos. E por momentos, semanas, meses, talvez até mesmo anos, o rapaz parece amar verdadeiramente a rapariga. Escreve-lhe canções bonitas. Manda-lhe mensagens. Dá-lhe beijos apaixonados no meio da rua. Rouba-a do sitio onde ela está para lhe dar o dia dos seus sonhos. Diz-lhe que ela é a única do Mundo, dança com ela no meio da rua. 
E a rapariga compreende que o amor é aquilo.
Mas depois soube melhor.
Soube das mensagens que mandavas para outras, tal quais as que mandavas para mim. O meu coração partiu-se em mil bocados, mas talvez saibas isso melhor do que eu, porque o meu coração foi teu desde o primeiro momento. Soube dos beijos que trocavas com outras em ruas praticamente desertas, povoadas somente de amantes ilícitos. Aprendi acerca do teu desprendimento em relação a outros seres humanos.
Mas eu devia ser o teu ser humano predilecto, não?
Passo as mãos pelos meus olhos, numa tentativa de dispersar o sono que me tem atacado constantemente, que num um monstro invisivel que invade os meus sonhos. Povoas-os, num esforço imenso de atormentar a minha alma, e de encher a minha cabeça de ti. Mas, se soubesses disso por bem me conheceres, saberias que todos os meus pensamentos eram cheios de ti, desde o primeiro instante em que me beijaste, e agora... agora que acabou... começo a ficar farta de ter tanto de mim em ti. 
Admito... achei que tinhas sido feito para mim, na medida que alguém pode encaixar perfeitamente noutra pessoa. Mas o Destino prega partidas, e foste a partida que a Vida quis por no meu caminho, por muito má e quebrante que me tenhas sido. 
Se um dia recuperarei?
Quem sabe? Tenho vontade disso... sabes? De amar outra pessoa tão ardentemente como te amei. Mas tens que me deixar ir, sabes? Porque eu quero deixar-te ir... Quero tornar a conhecer-me, porque depois de ti perdi-te de mim... perdi a minha liberdade, o meu coração, os meus pensamentos, os meus sonhos, os meus amores...
E quero recuperar tudo... recuperar-me... para me dar juntamente com outra pessoa. Não perder-me. Nunca mais quero perder-me. Mas dar-me-ei se a pessoa que me amar se der a mim.
Quero reencontrar-me para poder amar de novo. 


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