Procuras

Eu era uma vagabunda de sentimentos. Nunca me contentei com muito, e nunca me deixei apanhar por nada. O vento, mensageiro de bonança e tempestade, cedo se tornou o meu testemunho, mensageiro do que estava na estrada deserta.
Sempre busquei a liberdade.
Mesmo quando tudo aquilo que tinha que fazer era esticar os meus dedos, e estaria ao meu alcance.
Esteve ao meu alcance, mesmo quando estava fora de mim.
Tive asas um dia. Eram lindas. Transportavam-me do Mundo real para o Mundo dos sonhos, e de volta, a liberdade magnifica, doce. A minha casa fora dela, o sitio na minha vida, onde o meu calor se enchia de calor de paz.
Mas cortaram-nas. Somente me restam as cicatrizes nas costas, feias, lúgubres. O lugar de entrada para os pensamentos negros que me prendem à realidade, e me impedem de fazer parte dela.
Não sei o que é sentir. Já não. Perdeu significado. A palavra em si, desapareceu de um dicionário cheio de trejeitos e ilusões.
Como se pode sentir alguma coisa, quando nem sequer se tem coração?
Um dia esteve lá. Aqui. Perto de mim. Sentia-o a bater. É a única prova que tenho que um dia esteve aqui. É isso que me faz sentir a sua falta?
Agora sou apenas feita de fumo e de espelhos.
Uma miragem, até para mim, que tenho a perfeita consciência que existo.
Mas para outros, estou ao alcance de fantasmas e de espiritos de outrora.
Liberdade.
Falta-me sempre esse facto. Essa sensação. Esse ponto, de uma personalidade que um dia foi minha. ´
Falta-me sempre algo.
Quando aparentemente tenho tudo.
Sou uma inconformada.
E por outro lado...
Não.

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