Conto de um primeiro amor

Era uma vez... O que muitos chamariam de um conto de fadas e uma história de encantar. Mas foi apenas um primeiro amor. Daqueles que são repletos de mistério e sentimentos verdadeiros. Foi um primeiro amor, e quem sabe o último. Com testemunhas, o que talvez o torne mais palpável, mais verdadeiro. Mas mesmo se testemunhas não existissem... O primeiro amor nunca morre em nós.
Conheci-o numa manhã de Verão. Talvez para muitos, uma como tantas outras. Mas... não sei. O Verão sempre teve um misto de magia e liberdade. Como se tudo pudesse acontecer. Bem, pelo menos para mim.
Estava a caminhar à beira da água. Os grãos de areia infiltravam-se entre os meus dedos, como se quisessem fazer parte deles, e se quisessem esconder do Mundo.
O mar, lá ao longe, estava revolto. Os Deuses estavam inquietos, como se uma Guerra estivesse para ser travada. O som da revolta da Mar sempre me acalmou, desde que era bem pequena, e naquele dia não era excepção. Como se a revolta do mar de alguma forme se coadunasse com a inquietação do meu interior.
As minhas amigas... Caminhavam ao meu lado. Na sua tagarelice alegre e desprendida, como somente elas sabiam ter. Eu não tomava grande atenção ao que elas diziam. Mas não fazia mal. Tinha a certeza que me iriam por a par mais tarde.
Reparei em ti ao longe. Tive dúvidas daquilo que os meus olhos viam. Por momentos, pensei que era um produto da minha imaginação. Do alto da tua figura. O teu nariz afiado, e o teu cabelo revolto com o vento, da cor do alcaçuz. Tinhas um ar régio, sábio. E senti um calor intenso no meu coração. Como se fosses alguém que tivesse conhecido numa outra vida, e te tivesse voltado a encontrar, depois de muito tempo.
Suponho que o coração guia mais depressa, do que aquilo que a nossa mente consegue.
Lembro-me dos detalhes da primeira vez que me viste. A forma como o espanto inundou o teu rosto. Como os teus olhos enormes, eram do azul mais intenso que alguma vez pensei ter visto. Parecia que me querias dizer alguma coisa. Como se tivesses palavras que necessitavam de serem pronunciadas, mas estas não te fizessem qualquer sentido. Até a mim. Nada me fazia sentido naquele momento.
Mas não me importava.
Corri na tua direcção. As minhas amigas ficaram a olhar para mim. A loucura tinha finalmente tomado conta do meu corpo, e havia-me libertado de quaisquer preconceitos. Elas não me impediram no entanto, como se soubessem que era algo que eu tinha que fazer.
O teu corpo voltou-se na minha direcção, e como se um sonho se tornasse realidade, abriste os teus braços para me receber. Eu atirei-me a eles, como se estivesse a atirar-me a um bote de salva-vidas. Decorei o teu cheiro de imediato, a chocolate e água de colónia. A casa.
A tua respiração deleitava-se com a minha, sincronizando-se. A minha voz estava embargada, as lágrimas ameaçavam escapar. Não sabia o porquê, mas senti que era dos momentos mais felizes da minha vida.
- Conhecemos-nos antes? - perguntou ele.
- Talvez numa outra vida. - respondi-lhe, e por mais louco que possa ser, as minhas palavras nunca antes me tinham feito tanto sentido.
- Talvez tenhas razão. - murmurou ele. - É bom estar de novo contigo.
Suponho que o primeiro amor tem disto. Irracionaliza-nos e depois faz com que mais nada tenha importância. Arrebata-nos e torna-nos melhores. Faz-nos regressar a casa, quando pensávamos que nunca havíamos saído.
- Tive saudades tuas. - murmurei, e encontro ao seu peito.
Agarrámos-.nos ainda mais um ao outro. E jurámos nunca mais largar.


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