O Adeus ainda não chegou

Não quero dizer que o Adeus é instântaneo pois a saudade permanece.
Envolve a minha alma, reclamando a sua posse num inrreclamado escúrtinio popular.
Permaneci agarrada ao teu ser, quando me deixaste. Permaneceu o rasto de destruição no caminho que tomaste, espelho da turbulência da tua pessoa.
Deixaste cicatrizes.
Cicatrizes irremediáveis. Umas boas e outras más, fruto de todos os instantes em que as discussões se infiltravam nas nossas palavras ou quando somente tinhamos o propósito de nos perder um no outro.
Olho para as palmas das mãos, naquela que chegou a ser a nossa cama. Parecem demasiado geladas, incapazes de se moverem com o resto do meu corpo. Lembro-me de uma altura que estas mãos seguravam facilmente as tuas, perto de mim, na intensidade do que fomos e ainda poderiamos ser.
Realmente.
Olho na direção da porta do quarto. Deixas-te as tuas botas, presença ausente do teu corpo. Estavas a usá-las na primeira vez que nos vimos, a tua imagem de marca indiscútivel na tua passada pesada.
Deixaste-as para trás tal como me deixaste. Sinto um peso no meu peito. Fruto do espaço que as lágrimas fazem para se manter dentro de mim, na sensibilidade de quem está prestes a desfazer-se um pouco mais.
Junto os joelhos para junto do meu corpo, e escondo o rosto neles, abraçando a minha pessoa na falta dos teus braços para me envolverem.
Deixo-me estilhaçar. Dizem que nada se compara à tristeza de um coração partido, pois bem o meu foi abandonado. Deixo que as lágrimas me percorram, incuntindo a minha pele de um triste brilho e os meus olhos de um vermelho deprimente.
Sinto a tua falta. Tanto, mas tanto.
Ouço a chave na porta da frente. Ergo o rosto subitamente, com a esperança a atravessar-me no corpo, pouco e pouco como um doce veneno. Ergo-me rapidamente, corro até à entrada do quarto.
Estás aqui. Os teus olhos estão vermelhos, a pele translúcida. Pareces tão espantado quanto eu, como se não estivesses à espera de me encontrar, perdida em pensamentos desolantes, e na minha saudade da tua pessoa. O teu peito move-se rapidamente para cima e para baixo, denunciando a turbulência da tua pessoa.
Como senti a tua falta.
Não sei bem o que fazer. Quero puxar-te para mim, perder-me na tua essência, deslumbrar-me por tudo aquilo que somos juntos.
Outra parte de mim tem medo que já não me queiras.
Assusto-me quando fechas a porta por trás de ti. Diminuis rapidamente a distância entre nós, alicias-me com o teu aroma.
Puxas-me para os teus braços, enchendo-me de ti, prendes-me de encontro ao teu coração, e por momentos desejei que nunca mais nos largássemos, que tudo aquilo que nos separa se evaporasse do dia para a noite.
Sinto os teus dedos no meu cabelo. Os soluços transbordam do meu peito, tremeluzindo pelo meu corpo. Tentas acalmar-me e dizes que me amas, uma e outra vez.
Deixamo-nos cair no chão, presos nos braços um do outro, vencidos pelo cansaço de não nos conseguirmos largar.
Afinal, o Adeus ainda não chegou.

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