Enquanto o amor perdura

Da última vez que me soube, sentia a tua falta.
É um vazio inócuo. Sujo, frio e desprovido de sentimento. Preenche todo o espaço do meu coração, negando-me uma réstia de quem costumava ser.
Quem diz que a saudade não mata, não sabe merda nenhuma acerca da vida.
Foste um percalço. Abraçaste-me quando a história era negra, e desapareceste no primeiro raio de saio, como quem não aguenta um rasgo de felicidade. Atreveste-te a escrever-te na minha pessoa, deixando por mim marcas que nunca considerei ou mesmo poderei apagar.
Fiquei de mãos a abanar.
Perdida nas memórias que um dia chegámos a ter, entrelaçados no que fomos.
Sabes o que dói mais?
A facilidade com que te foste embora. Como se no teu coração eu nunca houvesse entrado, a tua alma não se tivesse moldado apenas um pouco pela minha pessoa.
Que talvez tenha sido somente uma boneca nas tuas mãos.
E o pior de tudo, é que só agora me apercebo disso.
Vejo-te frequentemente, por minha inconstância de espírito ou magnetismo maldito que me guia na tua direcção. O estúpido do meu coração ainda se atreve a dar um salto, de cada vez que os meus olhos se encontram com os teus. Como um fio de lã condutor, que guia o meu ser a espelhar o movimento do teu. Uma batalha é travada pelo meu atribulado coração, para me manter afastada da coisa que mais quero neste Mundo.
Da última vez, quase que me destruí.
Estavas do outro lado da rua. O teu sorriso abria-se em gargalhadas. Sabia, no entanto, por fingir que te conheço como a palma da minha mão, que não estavas realmente feliz. O teu riso não se prolongava ao teu olhar. Ias com o braço por cima dos ombros dela. Não a deixavas escapar do teu encalço, protegendo-a tal como fizeste comigo tantas outras vezes.
Estavam prestes a entrar num café. Deixaste-a entrar à tua frente. Suponho que o cavalheiro em ti se manifestou naquele momento.
Mas depois... Suponho que um golpe de sorte, ou uma partida do Destino. Desviaste o teu olhar para o outro lado da rua.
Para mim.
Quase que podia dizer que toda a cor se sumiu do teu rosto. Como se tivesses visto um fantasma. Bem, penso que de cera maneira, foi nisso que eu me tornei na tua vida. Uma sombra do que foste.
E então, a facada final...
Um rasgo de um verdadeiro sorriso surgiu no teu rosto. As tuas faces tornaram-se vermelhas. Quase que podia jurar que te vi a respirar de alivio. A tua primeira verdadeira golfada de ar em bastante tempo. Dei por mim, a ir até à beirinha do passeio, só pela possibilidade de estar mais perto de ti.
O coração quer o que não pode ter.
E o brilho nos teus olhos. Como se houvesses voltado a ver algo pelo qual esperavas à demasiado tempo. A réstia de esperança que se espalhava pelo teu rosto, e por consequência no meu coração.
Parecia que me querias como eu te quero.
Mas depois, ela voltou. Ladra ingrata. Tiraste os teus olhos de mim e o calor desapareceu. Puxou-te para dentro do café, e tu desapareceste, sem nunca olhar para trás.
Deixaste-me ali, a recolher os pedaços.
Hoje, tenho a saudade ingrata para me fazer companhia. Desnecessária autoridade sobre um coração fragilizado.
Porque a saudade fica. Fica sempre.
Enquanto o amor perdura.

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