Somente uma noite

Relembro-te como quem não quer a coisa. Como quem somente vive de vontades e do desejo humano de as cumprir. Como quem respira, e não tem vergonha de admitir que está vivo.
Relembro-te, com o despreendimento de quem te amou apenas uma noite, mas que vai amar-te sempre. Ainda que não seja para sempre. De quem não tem vergonha dos amores que se passam entre um homem e uma mulher, e que os vai recordar sempre com o maior dos desejos e seduções. De quem foi segurado nos teus braços, sabendo que era a primeira e a última noite que tinha contigo.
E que nenhuma outra alguma vez se poderia comparar.
Estavas lindo e elegante naquela noite, como se as estrelas tivessem saído à rua somente para cumprimentar o mais ilustre. Eras simples no teu andar, e talvez seja por isso que te revejo em todos os outros.
Foste a minha maldição, ainda que somente por uma noite.
Tomaste-me como quem não quer a coisa. Como um louco que arrisca saltar para o outro lado do precipício, quando a jornada vai ainda no inicio. Mas também nós fomos loucos, ainda que somente por uma noite.
Mas se uma noite era tudo o que tínhamos, porque não arriscar para o resto das nossas vidas.
Amei-te uma vez e aposto que o poderia fazer novamente.
Mas onde estaria o mistério numa coisa assim?
Foi somente uma noite, e suponho que a fugacidade de um momento que dura para sempre tem disso. Leva-nos a viver as coisas com uma intensidade de gigantes, ainda que tenhamos sido apenas anões nos planos dos deuses.
Não te esquecerei.
Até nunca.

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