Oportunidade de te amar

Todos os dias, é a isto que se resume...
A cada nova manhã, em que o Sol entra demasiado brilhante pela janela... em que semicerro os meus olhos... e ouço as pessoas do andar de baixo a tomarem o pequeno-almoço... por uma questão de segundos... eu esqueço-me...
Por uma questão de segundos eu esqueço-me de como te conheci. Que era um dia de chuva daqueles, e que entraste dentro do café onde trabalhava para te abrigares... o quanto estavas com a roupa colada aos ossos. Esqueço-me que a primeira coisa que reparei em ti foi a tua atitude. Como se estivesses sempre preparado para uma luta. Esqueço-me de como foste um otário comigo, quando falámos da primeira vez. E da luta que eu te dei de volta.
Mas as primeiras impressões são sobrevalorizadas.
Esqueço-me por segundos, que continuaste a voltar, todos os dias depois desse, quer a chuva caísse ou não. Esperavas sempre que a maior parte das pessoas saísse, para que depois fosse a tua vez e não me deixavas com pessoas estranhas. Talvez fosse a tua maneira de cuidares de mim, já naquela altura.
Eu na verdade só queria saber quando é que me convidavas para ir dançar contigo.
Esqueço-me, por instantes, que passaram duas semanas desde o primeiro instantes em que te vi, e tu nunca mais tomavas a iniciativa. Então... dei o primeiro passo, no alto da minha dúvida e da minha incerteza, sabendo apenas o íman que me atraia na tua direcção. Quase me esquecia da maneira como sorriste para mim, como se finalmente se tivesse levantado um peso dos teus ombros. Eras o rapaz mais bonito que alguma vez vi, e por momento, esqueço-me disso.
O nosso primeiro beijo... momento intemporal por baixo daquele céu estrelado, naquela Sexta-Feira, dia 13. As borboletas que iam contra as paredes do meu estômago, qual esforço inútil para saírem cá para fora, ficaram num tumulto conforme ias colocando as tuas mãos a emoldurar o meu rosto, e os teus lábios se encostavam aos meus. Foste a coisa mais doce que provei em muitos tempos, o mais apetecível, o que mais aquecia o meu coração.
Esqueço-me por momentos que cantavas em voz melodiosa. Sem esforço. Ou pelo menos era o que me parecia. Acerca de últimos fins e primeiros inícios. Parece redundante, eu sei, mas entre ti e mim, ambos sabemos do que é que eu estou a falar.
Por momentos, não me lembro do momento em que me disseste que me amavas. Esse, que é o momento que choro com mais saudade, todas as manhãs. Quando me olhaste de lágrimas nos olhos, como se estivesses simplesmente aliviado por finalmente dizeres essa palavra. Eu soube que te amava desde o momento em que te dei a mão pela primeira vez.
Passaram cinco anos...
Passaram cinco anos desde a nossa primeira e última discussão... Aquela em que saíste disparado da nossa casa, e por fim da minha vida. Em que um gajo qualquer, bêbedo ainda da noite anterior, que conduzia desgovernado na mesma estrada que tu.
Passaram cinco anos...
Ainda tenho a tua voz gravada no atendedor de chamadas.
Ás vezes dou por mim a telefonar para lá, vezes e vezes sem conta, só para a ouvir. Dou por mim a tocar as gravações das vezes que cantavas para mim. Dou por mim a repetir vezes e vezes na minha cabeça, as cenas da nossa vida a dois...
Então sim... Por momentos, acordo e a minha mente está em branco. Desculpa por isso...
Mas sabe, que depois todas as memórias me atingem de uma vez... E por momentos tenho vontade de chorar descontroladamente... E de sorrir... Porque ainda hoje tenho a oportunidade de te amar, apesar de já não estares ao meu lado.
Obrigada...

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