Desejos e manias

Entrei numa página em branco, desprovida de desejos, inútil de sentimentos e saudade de quem um dia fomos.
No nevoeiro de uma vida, uma volta na roda gigante, que não passa duas vezes pelo mesmo sitio.
Imaginei que o meu livro estaria escrito por esta altura. Com palavras bonitas, cheias de significado e pouco floreadas.
Palavras de uma vida cheia de risos, choros e uma dança aqui e ali.
Que teria um final digno de contos de fadas, e não dos meus mais tenebrosos pesadelos.
Um beijo no rosto e um poema de saudade. Foi tudo aquilo que me deixaste naquela abandonada madrugada.
Porventura, o meu coração de vidro estilhaçou, até pertencer à areia da praia.
Ainda tenho o teu blusão de cabedal. Cheira a menta, a suor e a ti, o meu aroma favorito e único, cheia de todas as memórias de uma vida que deixei escapar por entre os meus dedos, produto da imaginação de alguém que costumava sonhar acordada.
Ainda me lembro de agarra o seu tecido, como se a minha vida dependesse e não dependesse dele de cada vez que me levavas a andar de mota, de gritar como se todo o Mundo estivesse a andar à roda, quando éramos nós que dávamos a volta ao Mundo.
Desenho por finos traços o caminho de desenrolávamos pela calçada, como se pequenos duendes houvessem deixado pistas daquilo que éramos quando lá passámos, e nos quisessem mostrar que nunca mais seriamos iguais.
Perdeu-se um Destino, ganhou-se uma saudade incrível de descrever e poderosa de se sentir.
Venci os meus medos no dia em que te dei o nosso primeiro beijo. Foste aquele pedacinho que não sabia estar ausente, mas que pertenceu a mim, com todas as arestas afiadas que tinhas.
Traçaste caminhos por todo o meu corpo, invisíveis após teres colocado um pé porta fora no dia em que te foste embora.
O meu corpo treme e por muito que me custe queria os teus braços em meu redor, sentir o bater do coração, e deixar que afastes todos os meus fantasmas.
Desejos.
E manias.

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