Insónia da tua ausência

Espero por ti todas as noites. Enquanto vejo a Lua a surgir no seu devido lugar no céu, luz cálida e brilhante, como sempre, longa expectadora de junções e de separações, testemunha de grandes actos de amar bem como também de grandes guerras.
Espero por ti, na insónia da tua ausência. Cubro-me com os lençóis, revoltos em cima das minhas pernas e do meu tronco, revoltos pelo meu desassossego e pelos sons dos meus pesadelos.
Na tua ausência não consigo dormir. Sinto a falta do teu corpo ao meu lado, a forma como o teu calor parece fugir do teu encalço e me envolve e protege. Como o teu toque me acalma e afasta todos os fantasmas, mesmo aqueles que já parecem acompanhar-me desde pequena.
És a luz no meio da escuridão que me rodeou até te conhecer.
Sento-me na cama. O cabelo cai-me para os olhos, e empurro-o para trás com a mão. Olho através da janela, a rua movimentada mais calma ainda que o meu interior.
Sinto-me que nem em Nova Iorque, nos seus dias mais calmos.
Saio do quarto. O relógio de cuco assinala a uma da manhã, horas dos solitários acordados. O barulho daquela coisa sempre me irritou, e hoje ainda mais pois é um lembrete idiota que não estás aqui.
É demasiado grande o vazio que se abate sobre mim.
Vou para a cozinha. Encho um copo com água de um jarro, e encosto-me à bancada. Resfrio a minha testa, numa tentativa vã de me tirar do meu estado inebriante. Sonho contigo, apesar de saber que estás para chegar.
Antes contigo, do que ter os meus pesadelos usuais.
Desde pequena que sou uma choramingas. Quase que me curaste dessa tendência, mas não por inteiro. Costumo ter medo de gritos, sombras negras, palavras feitas para magoar. Evito tudo isto como uma praga, mas o choro apanha-me sempre desprevenida, sobretudo quando não estás por perto.
Sou três quartos de donzela em apuros, um quarto princesa guerreira.
Mas suponho que poderia ser pior.
Ouço a porta da frente, e é remédio santo para o meu coração recomeçar a bater. Ainda não te vi, mas de alguma forma já estou mais viva, desperta para um Mundo de possibilidades. Dirijo-me para a porta em pezinhos de lã, enquanto tu entras, num sobressalto que fica apenas entre as nossas almas tempestuosas. Espreito-te por instantes. O teu cabelo está revolto pelo vento, e tenho que contrariar todos os meus instintos para não passar a minha mão por ele. Retiras o cachecol, e vejo as tuas bochechas afogueadas. O regresso tão esperado do meu campeão.
Não aguento mais. Quando fechas a porta, atiro-me nos teus braços, porque o teu abraço é o melhor que existe à face da Terra e o teu beijo é o que acalma o meu espirito.
Perguntas-te, com os teus lábios presos de encontro ao meu cabelo:
- Não consegues dormir?
Abano a cabeça encostada ao seu peito, só para ver se consigo ouvir o bater do seu coração, se o calor da sua pele me cura de quaisquer feridas.
Acabo por olhá-lo através das minhas pestanas, um olhar que sei derrete-lo por metades e por inteiro, digo-lhe:
- Não como quando estamos juntos.
Sinto-o a plantar um beijo na minha testa, um beijo que tem tanto de arrepiante como inebriante.
Estarmos juntos, é só o que interessa.

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